quinta-feira, 28 de maio de 2009

Joguinhos de for(ç)as

d'efeito

Esta última postagem da Camila de "O Desbunde" me lembrou uma tiradinha que criei para uma série que chamo de Frases d'efeito. Lá vai:

Criado mudo. Criado ideal. Adapta-se a qualquer canto, do lírico ao popular.

terça-feira, 26 de maio de 2009

CRIADOR

Criador

26/05/2009

criado - criatura - criador
cria - ria - ia
cri - cri - cri
cria a dor
Ele
cria tua
dor
Ele
cria - ria - ia
cri - cri - cri
e o criado ficou mudo....

domingo, 24 de maio de 2009

quarta-feira, 20 de maio de 2009

To the evening star

Thou fair hair'd angel of the evening,
Now, whilst the sun rests on the mountains, light
Thy bright torch of love, thy radiant crown
Put on , and smile upon our evening bed!
Smile on our loves, and, while thou drawest the
Blue curtains of the sky, scatter thy silver dew
On every flower that shuts its sweet eyes,
In timely spleep. Let thy west wind sleep on
The lake; speak silence with thy glimmering eyes,
And wash the dusk with silver. Soon, full soon,
Dost thou withdraw; then the wolf rages wide,
And the lion glares thro' the dun forest;
The fleeces of our flocks are cover'd with
Thy sacred dew: protect them with thine influence.

William Blake


À estrela vésper

Tu, anjo noturno de alva cabeleira,
Agora, enquanto o sol se inclina sobre a colina, inflama
Teu reluzente lume, coloca a radiante coroa
E sorri sobre o leito da noite!
Sorri sobre nossos encantos enquanto recolhes
As cortinas azuis dos céu, esparge teu argênteo orvalho
Sobre cada flor que cerra ao sono seus doces olhos,
Deixa que o vento do oeste adormeça sobre o lago
Fala em silêncio com os teus luminosos olhos
Banha de prata o crepúsculo e de repente
Te retiras enquanto enfurece o lobo,
E o leão o escuro bosque espreita:
Os velos de nossos rebanhos recobriram-se
Com o teu sagrado orvalho;
Protege-os com os teus sutis sortilégios.

(tradução de Alberto Marsicano)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Benedetti vive!

Mario Benedetti virou passarinho. Quem quiser conhecer suas poesias clique aqui. Procurem na internet, no youtube sobre ele. Abaixo segue um poema tra(b)duzido sobre a morte de Pinochet. E um video onde declama seu poema "Desaparecidos"


Obituário com urras!

Mario Benedetti

Vamos festejar!

Venham todos

os inocentes

os fudidos os que gritam de noite

os que sonham de dia

os que sofrem o corpo

os que alojam fantasmas

os que pisam descalços

os que blasfemam e ardem

os pobres congelados

os que amam alguém

os que nunca se esqueceram

vamos festejar

venham todos

o canalha está morto

se acabou a alma negra

o ladrão

o porco

se acabou para sempre

urra! que venham todos

vamos festejar

e não digam

que a morte

sempre apaga tudo

a tudo purifica

qualquer dia

a morte

não apaga nada

ficam

sempre as cicatrizes

urra!

morreu o cretino

vamos festejar

e não choremos sem motivo

que chorem seus iguais

e que engulam suas lágrimas

se acabou o chefe dos monstros

se acabou para sempre

vamos festejar

e não sejamos tolos

crendo que este

é um morto qualquer

vamos a festejar

e não vamos nos descuidar

e esquecer que este

é um morto de merda.





Están en algún sitio / concertados
desconcertados / sordos
buscándose / buscándonos
bloqueados por los signos y las dudas
contemplando las verjas de las plazas
los timbres de las puertas / las viejas azoteas
ordenando sus sueños sus olvidos
quizá convalecientes de su muerte privada

nadie les ha explicado con certeza
si ya se fueron o si no
si son pancartas o temblores
sobrevivientes o responsos

ven pasar árboles y pájaros
e ignoran a qué sombra pertenecen

cuando empezaron a desaparecer
hace tres cinco siete ceremonias
a desaparecer como sin sangre
como sin rostro y sin motivo
vieron por la ventana de su ausencia
lo que quedaba atrás / ese andamiaje
de abrazos cielo y humo

cuando empezaron a desaparecer
como el oasis en los espejismos
a desaparecer sin últimas palabras
tenían en sus manos los trocitos
de cosas que querían

están en algún sitio / nube o tumba
están en algún sitio / estoy seguro
allá en el sur del alma
es posible que hayan extraviado la brújula
y hoy vaguen preguntando preguntando
dónde carajo queda el buen amor
porque vienen del odio

sábado, 16 de maio de 2009

Terrível abandono

Em que terrível abandono os deixei
Vocês, poemetos, poeminhas, poemeus

E que falta de inspiração recorrente
E que ausência de dedicação veemente

Que num domingo ensolarado
Num Sun day qualquer,
Eu possa aqui, inspirado,
Embora mulher
Do verso encontrado
Poemar como se quer.

Aline

sexta-feira, 15 de maio de 2009

XXVI

Durante o dia constrói
Seu muro de girassóis,
(Sei que pretende disfarce
E fantasia.)
Durante a noite,
Fria de águas
Molhada de rosas negras
Me espia.
Que queres, morte,
Vestida de flor e fonte?

- Olhar a vida.

(Hilda)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Câmbio

Câmbio
25/03/2007

Adormecida pelas sinalizações.
As bandeiras não acompanhavam
meu ritmo aéreo,

e eu mais leve que qualquer nuvem
mais carbônica que qualquer oxigênio
apenas garganta.
Muda.

“Câmbio”
...
os pássaros suavam entre hélices;
uma espiral em movimentos subliminares
quase elípticos.

Mas não! Não!
Não poderia ser!
...
“Câmbio”

poeira flutuante do ar,
turvo apêndice que
nada.
(...)


terça-feira, 5 de maio de 2009

mais de olga orozco

tra(b)dução... sugestão: os poemas de Olga são poemas que exigem duas leituras, suas imagens parecem insondáveis, mas se insiste na leitura as imagens vão se revelando, é preciso se acostumar com esse lugar de onde ela fala e como ela descreve coisas tão abstratas.

Em tua imensa pupila (Olga Orozco)

Me reconheces, noite,
me apalpas, me reencontras,
não como avara senão como uma falsa cega,
ou como alguém que não sabe nunca quem é a náufraga e quem entoa os cantos de lamento.
Me escolhestes às escuras para estátua de tuas alegorias,
apenas pelo costume de submergir-me até onde se acaba o mundo
e perder a cabeça em cada nuvem e a cada passo o solo debaixo dos pés.
E acaso não fui sempre tua enteada preferida,
essa que se adianta sem vacilações até a armadilha urdida por tua mão,
a que morde o veneno na maçã ou copia tua beleza do espelho traidor?
Esqueceram de me atar ao mastro da casa quando tu passavas
para que não me fosse, a cada vez, atrás de tua flauta encantada de ladra de crianças,
e foi, às custas do dia, que confundi em tua bolsa a brancura e a neve, os lobos e as sombras.
Agora é tarde para voltar atrás e corregir as horas do acordo com o sol.
Agora já me marcaste com teu alfabeto negro.
Pertenço a tribo dos que se hospedam em radiantes trevas,
dos que vêem melhor com os olhos fechados e se deitam ao lado do abismo e alçam vôo e não voltam
quando Tomás abre de par em par as portas do evidente meiodia.
Tu fundas tua Tebaida no invisível. Tu não concedes provas.
Tu aconteces, secreta, inumerável, sem formular,
como uma contemplação que se volta para dentro,
onde cada sinal é o tremor de um pássaro perdido em un recinto imenso
e cada subida um salto no vazio contra degraus e ausências.
Tu me vigias desde todas as partes,
Descorrendo cortinas, perfurando os muros, espiando entre fardos de penumbra;
me encontras e me olhas com o olhar do caçador e da testemunha,
enquanto descubro no meio de teus matagais o esplendor de uma cidade perdida,
ou busco em vão o rastro do porvir em tuas encruzilhadas.
Tu vais quem sabe para onde seguindo as variações da tentação inalcançável,
experimentando os rostos extremos do horror, da extrema beleza,
a impossível distancia dos outros, o tato do inferno,
visões que se amontoam até onde te alcança a obscuridade que tenho,
até onde começas a rodar morte abaixo com carruagens, com pedras e com cachorros.
Mas não te peço lamparinas exumadas nem véus entreabertos.
Não te reclamo uma lição de luz,
como não reclamo a água por chama nem a vigília pelo sonho.
Ou deveria confiar menos em ti que nas duras, reciosas estrelas?
Temos visto tantos mistérios insolúveis com seus brancos reflexos, mesmo que a pleno sol!
Basta que me leve pela mão como através de um bosque,
noite atapetada, noite sigilosa, que aprenda eu o que queres dizer, o que sussura o vento,
e possa ao fim ler até o fundo de minha pequena noite em tua pupila imensa.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Bom poema para tempos de crise

A espera (Ferreira Gullar)

Um grave acontecimento está sendo esperado por todos

Os banqueiros os capitães de indústria os fazendeiros
ricos dormem mal. O ministro
da Guerra janta sobressaltado,
a pistola em cima da mesa.

Ninguém sabe de que forma desta vez a necessidade
se manifestará:
se como
um furacão ou um maremoto
se descerá dos morros ou subirá dos vales
se manará dos subúrbios com a fúria dos rios poluídos
Ninguém sabe.
Mas qualquer sopro num ramo
o anuncia
Um grave acontecimento
está sendo esperado
e nem Deus e nem a polícia
poderiam evitá-lo.